A Nora da Governação

Ao longo da I República, os governantes e os governos sucederam-se,  por vezes num movimento demasiadamente acelerado. Mas o povo, esse, qual burro famélico continuava a fazer trabalhar a nora da governação. Cansado, arquejante ...( Silva Monteiro, in Os Ridículos 15 de Abril de 1916).

 Estas caricaturas, pese embora , a cor  política do desenhador, não podem deixar de exprimir o sentimento de uma grande parte da sociedade, uma vez que como jornal  humorístico, tinha grandes tiragens  e chegava
às mais diversas partes do país.

Se é verdade que a história não se repete, se os tempos não são os mesmos, também é verdade que estas  queixas parecem  configurar as mesmas atitudes por parte do povo perante a violência dos sacrifícios .pedidos.

Será que os nossos governantes ainda não viram que isto, a continuar,  pode não acabar bem?!

Espremido...

1. Em 23 de  Novembro de 1912, o mesmo jornal humorístico caracterizava assim  o nosso Zé, sujeito à pressão dos impostos e contribuições, pelas mãos de Brito Camacho, Ministro do Fomento e director do jornal  A Luta, afecto ao partido Unionista.

Zé Povinho - Burro de Carga

Rir  é um dos maiores escapes para a desventura. O nosso país tem rido de si mesmo desde há muito e, talvez por isso vai suportando os males que lhe batem à porta .
O que vos proponho ,é que sigamos algumas caricaturas.que desde o final da Monarquia à actualidade foram exorcizando as angústias nacionais.

Este é o Portugal que temos, Terra airosa na paisagem ,grandiosa em igrejas e monumentos, amena no clima e povoada por gente simples, mais ou menos acomodada que continua, no fundo, a ser o  Zé Povinho que Rafael Bordalo Pinheiro imortalizou e que teve em Silva Monteiro um grande seguidor.

Aqui, carrega a pesada nau do Estado! Quase cai ,mas lá segue!
Estávamos então em 27 de Junho de 1900.

Mas em 1911, já depois da implantação da República carrega todas as albardas que lhe querem pôr.

 Silva Monteiro em Jornal Os Ridículos

Impostos e  mais impostos: imposto ao consumo,imposto de selo,contribuições diversas,aumento das rendas de casa... mas o Zé vai pagando suportando o peso dos impostos.

Resignado...




A 2 de Março de 1912 ,Silva Monteiro,  retratava assim Os Sete Passos  do Senhor...José Pagante .Não deixe de  ser curioso  verificar na actualidade o aparecimento das casa de penhores e de vendas de metais nobres, algo de que não me lembro de ver há muito tempo.

No mesmo ano ,mas a 25 de Novembro, desesperado entrega a própria camisa na Casa de Penhores,depois de tantas subscrições

   



De tantas vicissitudes passar dir-se-ía que o português é um povo pouco trabalhador,  indolente, incompetente... não meus amigos, é apenas a incapacidade de se entender com a política que já em 1909       era assim representada por Rafael Bordalo Pinheiro

A Política a Grande Porca